Jalandhar - Índia
- Jorge Yuri
- 27 de mar. de 2016
- 6 min de leitura
Jalandhar foi a décima-segunda parada da Reviravolta. Vocês podem procurar à vontade nos guias de turismo que vocês não encontrarão Jalandhar. Então o que a Reviravolta foi fazer por lá, atravessando a Índia de norte à sul, dormindo em trens com baratas, aeroporto e etc ?
Nós fomos num casamento de um amigo. Explicando melhor. No meu último emprego na França, trabalhei com um francês filho de indianos e numa das conversas sobre a nossa viagem, descobrimos que estaríamos na Índia na mesma época do casamento do irmão dele, e ele nos convidou para o casamento. Um telefonema para a Renata e convite aceito.
Um casamento indiano, não é só um dia. São vários dias e cada dia tem um significado. O noivo comemora com a família dele e a noiva com a dela e eles só se encontram no casamento. Abaixo tentarei explicar um pouco o casamento, mas como não conheço a religião, vai ser um relato pessoal do que vivemos, sem muitos detalhes religiosos.
Segunda-feira (4 dias para o casamento)
Chegamos à Jalandhar, 2 dias e meio depois de sair de Hampi. Como ficamos na casa da família do noivo (incluindo tios e primos), fomos recebidos com muita música e comida por toda a família e pudemos sentir um pouco o que vinha pela frente.
Terça-feira (3 dias para o casamento)
Dia das mulheres da família começarem à se preparar para o casamento, tatuando as mãos com hena. Um tatuador foi até a casa e tatuou todo mundo. Aproveitamos este dia para alugar uma roupa para o casamento, pois como estamos viajando só com uma mochila cada um, não dava para viajar com as roupas para usarmos no casamento. Resolvemos alugar trajes tradicionais e além da roupa tradicional eu aproveitei os preços atraentes da Índia e comprei um terno.
Quarta-feira (2 dias para o casamento)
Este é um dia especial para o noivo, pois é quando tem a festa dele com a família e amigos. O dia começou com uma celebração aonde a família abençoa o noivo e aplica uma espécie de "trote" nele, colocando uma massa amarela e passando farinha por cima. Além do trote, a massa com a farinha deixa a pele do noivo mais macia para o casamento. Como ele foi abençoado pela família, tem que ficar com a mesma roupa até o dia do casamento (pode tomar banho) e não pode sair de casa. A mãe do noivo deve limpar o desenho feito com pó colorido no chão. Depois de recolher todo o pó ela deixa as marcar da mão na porta de entrada da casa, que é um sinal de proteção para o noivo.
Na parte da tarde, aproveitei para comprar algumas coisas que tinha esquecido (meia, cinto e outros acessórios), enquanto a Renata ficou na casa descansando devido a problemas intestinais que durou alguns dias (a Índia não perdoa hehe). A noite a festa começou. A tenda da festa foi armada na rua da casa que ficamos e aos poucos começaram à chegar os convidados. Do meio do nada surgem dois caras com instrumentos indianos e começaram a tocar. Foi a deixa para começarem as danças e uma peregrinação pelas ruas do bairro, com música e dança. O interessante disto é que o noivo não pode sair de casa, então ficou vendo tudo de longe. Ele só pode sair mais tarde para dançar na frente da casa, nada mais. Depois disto foi servido o jantar e depois mais dança. O mais legal das danças é que só tocaram músicas indianas e para casa música tem uma forma de dançar e todo mundo conhece (a maioria das músicas são sucessos de filmes indianos e todos os filmes indianos tem música e dança). Depois disto tudo, estava todo mundo quebrado.
Quinta-feira (1 dia para o casamento)
Depois de dias corrido, foi o dia mais tranquilo. A Renata ainda continuava com problemas intestinais e eu com toda a comilança dos últimos dias acabei ficando um pouco mal também (estava enjoado). Como as atividades deste dia só começavam à noite, aproveitamos para descansar e eu fui fazer a barba (depois de quase 45 dias). À noite teve uma celebração religiosa da família com o noivo, mais o “padre”. Acompanhamos, mas não conseguimos entender muita coisa.
Sexta-feira (dia D)
E finalmente o dia do casamento chegou. Os preparativos começaram cedo, pois a festa começava na parte da manhã e o lugar da festa era uns 100 km de Jalandhar. Às 5 horas da manhã as mulheres já estavam tomando banho, pois duas maquiadoras estavam na casa para maquiá-las. Para os homens sempre é mais tranquilo, então mais uns minutinhos de sono para eles. Perto das 10 horas, estava todo mundo pronto e começaram as celebrações. Primeiro os tios e a família próxima, colocam coroas de dinheiro no noivo. Depois todos saem da casa em direção ao templo mais próximo, ao som dos mesmos músicos da festa de quarta e desta vez acompanhados de uma banda. É lógico que todo mundo ficava dançando junto. Em seguida, alguns carros e um ônibus saíram levando os convidados da parte do noivo para a festa. Um pouco mais de uma hora, chegamos ao local do casamento. A noiva e os convidados da noiva já estavam esperando no salão. Um cavalo branco estava à nossa espera e o noivo montou nele e fomos rumo ao salão. A banda e os músicos tocavam e todo mundo dançava. Um momento de tensão foi quando soltaram rojões para comemorar a chegada no noivo e o cavalo que o noivo estava montado se assustou e quase o derrubou. Depois disto tudo entramos no lugar da festa, mas nada da noiva. Ela estava numa sala reservada e só sairia na hora da cerimônia. Alguns comes e bebes e começam os preparativos da cerimônia. Para entrar no salão a família do noivo precisa negociar um valor em dinheiro com a família da noiva. Quando as negociações terminam os convidados do noivo são “autorizados” a entrar na festa e o casamento pode continuar. Eles cortam o cordão colocado na porta do salão. Mais uns minutos de espera e a noiva surge sob uma tenda levada pelos irmãos/família. Quando pensávamos que ia começar a cerimônia religiosa, os noivos ficaram num canto tirando foto e um grupo de danças tradicionais começou à dançar. Enquanto os noivos tiravam fotos e o grupo dançava começaram a servir mais comida/bebida. Passados 3 horas da festa finalmente a cerimônia religiosa começou. Sob uma tenda afastada da festa, os dois “padres” (um do lado do noivo e um do lado da noiva) ficam com os noivos e a família. Acabamos ficando perto, mas como não entendíamos nada do que eles falavam, ficamos meio de lado. Enquanto a cerimônia acontecia, o almoço foi servido, pois o cronograma do casamento estava super atrasado. A cerimônia durou mais do que o esperado e cronograma que já estava atrasado ficou pior ainda e muitos convidados foram embora antes do término. Com o problema do horário, a parte final da festa foi bem corrida e quase nem deu tempo das danças dos noivos com os convidados. Terminado tudo isso, veio a hora da noiva dar adeus à família, pois depois de casada ela vai morar com o noivo e com a família dele. Neste caso, como o noivo mora na França ela partiria com ele. Foi bem emocionante e mesmo sabendo que os indianos são preparados para isso, dá para ver que não é fácil para a noiva e sua família. Mais 1 hora e pouco e voltamos para a casa. Para quem pensa que a festa acabou esta super enganado, pois agora tem a recepção da noiva por parte da família do noivo. Fogos de artifício, celebrações, fotos, comida, música, dança, etc ... Perto da meia-noite e todos exaustos finalmente as coisas se acalmam e todos vão dormir para encerrar as comemorações.
Sábado (1 dia depois do casamento)
Depois de um dia anterior muito agitado, este é um dia tranquilo e a família usou para visitar a família da noiva e nós aproveitamos para organizar o resto da nossa viagem pela Índia.
Domingo (2 dias depois do casamento)
A família usou este dia para visitar os antepassados num templo e nós fomos convidados pelos vizinhos da casa que estávamos para visitar o maior templo de Jalandhar. Este também foi o nosso último em Jalandhar e assim terminou nossa inesquecível experiência de ir num casamento indiano.
Agradecemos a toda a família e amigos por nos ter recebido de forma tão carinhosa!
Desejamos aos noivos Sunil e Suman e a toda família os melhores votos de amor, saúde, paz e união!
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